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Desde 2005, o blog de quem ama o Rio de Janeiro, seus encantos, história, literatura, arquitetura e arte.
"Andar pelo Rio, seja com chuva ou sol abrasador, é sempre um prazer. Observar os recantos quase que escondidos é uma experiência indescritível, principalmente se tratando de uma grande cidade. Conheço várias do Brasil, mas nenhuma tem tanta beleza e tantos segredos a se revelarem a cada esquina com tanta história pra contar através da poesia das ruas!" (Charles Stone)
A abertura da Av. Presidente Vargas nos anos 40 (seguindo o traçado do antigo Caminho do Aterrado e das tradicionais ruas do Sabão e de São Pedro) dividiu o Centro carioca em dois "pedaços": no "lado de cá" da avenida ficou o centro de negócios da cidade e no "lado de lá" o centro portuário. Com a mecanização da atividade portuária possibilitada pelo advento dos contêineres, a chamadaZona Portuária entrou em processo de decadência, do qual só em anos recentes começou a sair com a construção da Cidade do Samba em plena Gamboa e agora, em vista da Copa e Olimpíadas, oProjeto Porto Maravilha. Como é típico de muitas áreas do Rio, uma série de morros (a maioria pouco conhecida ou desconhecida pelos cariocas) pontilham essa região: Morro de São Bento (1 no mapa acima), Morro da Conceição (2), Morro do Livramento (3), Morro da Providência (4), Morro da Saúde (5), Morro da Gamboa (6),Morro do Pinto (7) e Morro de São Diogo (8).
Se você olhar um mapa antigo, como o abaixo (escaneado do livroHistória dos Bairros: Saúde, Gamboa, Santo Cristo, de 1987, da João Fortes Engenharia), que mostra a Zona Portuária no início do séc. XIX, verá que esses morros ficavam perto do mar. O litoral recortado, com enseadas, ilhas, trapiches e ancoradouros, foi empurrado mais à frente e retificado através de aterros para a construção do Porto Moderno na época de Pereira Passos. Destarte, marcos como o Cemitério dos Ingleses, Igreja de São Francisco da Prainha e Igreja de Santo Cristo (por onde você às vezes passa de carro quando pega a via elevada que dá acesso ao Túnel Santa Bárbara), que ficavam à beira-mar, agora nem maresia recebem. As próprias ilhas do Cães e das Moças (ver mapa) foram vítimas da sanha aterradora. Os morros da Zona Portuária, devido ao relativo isolamento em que permaneceram, ainda guardam muito do espírito e aspecto do Rio Antigo. Vamos fazer um passeio por eles?
MORRO DE SÃO BENTO (1 no mapa)
O Morro de São Bento é um dos 4 morros (os outros 3 são o Morro da Conceição, o Morro do Castelo demolido nos anos 20 e o Morro de Santo Antônio) que delimitavam a zona urbana do Rio nos tempos coloniais. Já no final do século XVI ali se instalaram os monges beneditinos, que construíram no século XVII seu convento e a Igreja de N. S. de Montserrat, joias da arte barroca. O conjunto foi considerado Monumento Mundial pela UNESCO. O acesso se dá pela Rua Dom Gerardo, 68 (a 200 metros do edifício pós-moderno Rio Branco 1), onde um elevador conduz ao alto do morro — mas um pouco antes existe uma ladeira que você pode subir de carro ou a pé. As missas em canto gregoriano nas manhãs de domingo (e as Vésperas ao cair da tarde) são o que mais se aproxima neste mundo sublunar de uma experiência celestial. Para ler um texto sobre o mosteiro do escritor memorialista Antonio Carlos Villaça, que chegou a se ordenar monge mas depois se arrependeu, clique em Antonio Carlos Villaça no menu à direita .
O Morro de São Diogo é uma ponta do Morro do Pinto, do qual é separado pela Rua Moreira Pinto. Abriga a favelinha de mesmo nome (Moreira Pinto) e teve sua ponta corroída pela antigaPedreira de São Diogo, até hoje visível das Avenidas Francisco Bicalho e Presidente Vargas. Nos tempos de antanho “quebrar pedra em São Diogo” era sinônimo de “dar duro” como mostra velho samba de breque do Moreira da Silva de 1942 que você pode ouvir no YouTube. O nome se deve ao alferes Diogo de Pina que erigiu uma capela em louvou do santo nesse morro. O alferes se celebrizou por enfrentar os invasores franceses comandados por Duguay Trouin e deu nome também aos antigos Mangal de São Diogo e Saco do Alferes. O quinto episódio de Cinco Vezes Favela de 1962, dirigido por Leon Hirszman, chama-se Pedreira de São Diogo, embora fosse filmado na Pedreira da Providência.
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