2012-11-25

O conto da revisão urgente – Danilo

O conto da revisão urgente – Tradutor Profissional:

O conto da revisão urgente

A concorrência entre as agências de tradução é terrível. Muitos clientes finais simplesmente tiram três cotações e encarregam do serviço a agência mais barateira. As agências, pelo seu lado, empurram o problema para nós, basicamente porque somos a parte mais fraca. Como muitos tradutores acham que têm que aceitar todo serviço que lhes for oferecido, independentemente das condições, as agências não se sentem estimuladas a lutar por um preço melhor e, em vez de desenvolver meios de conquistar preços melhores, preferem arranjar meios de espremer o tradutor um pouco mais.  É a lei do menor esforço.
Os recursos para mungir um desconto do tradutor são muitos, entre outras coisas porque cliente, seja direto ou indireto, acha que mentir para conseguir desconto não é pecado.
Agora, estão me aparecendo com o conto da “revisão urgente”.
Funciona assim: revisão, de modo geral, é cobrada por hora. Cobrança por hora é problema, por dois motivos: o primeiro é que uns são mais rápidos que os outros; o segundo é que uns são menos honestos do que os outros. Por isso, é comum combinar uma estimativa de horas para o serviço e cobrar de acordo com essa estimativa – ou justificar a diferença. Já me aconteceu de pegar um serviço ruim demais e cobrar o dobro do combinado. Precisei justificar o excesso, mas recebi. Claro que quando você cobra por hora e combina um teto, na verdade, está cobrando por palavra.
Mas estou fugindo do assunto. Deixa explicar como funciona o conto. É assim: cliente liga e diz “preciso de uma revisão urgente, tenho só uma hora para revisar cinco mil palavras”.  Revisar cinco mil palavras em uma hora é uma tarefa impossível, ou, ao menos, insana. Não dá para cotejar com o original. Dá para corrigir os erros de português mais clamorosos, no máximo. Você se mata de trabalhar, fica exausto, tem que tirar um tempinho para descansar depois (que ninguém te indeniza).
A qualidade, claro, vai para o brejo. Mas quem está se importando com qualidade nessas horas? Segundo a agência, faça o melhor que puder, mas termine no prazo. E vocâ acaba granhando menos, para trabalhar feito doido.
Depois, quando o cliente reclama da qualidade, a agência te escreve, dizendo “lamentavelmente, tivemos uma reclamação contra um serviço que confiamos a você…” e ninguém se lembra que, no dia, disseram para você simplesmente limpar o grosso, sem se preocupar com detalhes.
Porque, no fim das contas, o responsável pela qualidade somos nós.

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